Capitão de Mar e Guerra, ele coordenou a logística da primeira missão da ONU à Síria. Por causa do estresse, sofreu um AVC. Mas o oficial diz que faria tudo de novo
Renata Malkes
Em meados de abril, nos corredores do Departamento de Operações de Paz das Nações Unidas (DPKO), em Nova York, oficiais da ONU corriam contra o tempo para montar a primeira missão de observadores internacionais à Síria, devastada pela guerra civil. E o primeiro nome indicado para a tarefa foi o do brasileiro Alexandre Feitosa, de 46 anos. Capitão de mar e guerra, fuzileiro naval, ele não teve tempo sequer de pensar em medo. Queria levar a esperança de paz ao povo sírio.
— Fiquei lisonjeado. É um orgulho muito grande poder ajudar, poder mostrar que, se antigamente militares eram apenas parte da máquina da guerra, hoje são também um instrumento para a paz — diz Feitosa.
Ele embarcou duas semanas depois, encarregado de todo o planejamento da missão, de seis homens, comandada pelo coronel marroquino Ahmed Himmiche. O grupo fez o possível para assegurar uma trégua e garantir as condições mínimas para implantar o plano de paz proposto pelo ex-enviado da ONU e da Liga Árabe Kofi Annan.
— Em Homs, foi muito difícil. Os tiros cruzavam a cidade a toda hora, próximo ao hotel, ao comboio. Ficou insustentável a um certo ponto — relembra ele.
Feitosa acabou, ainda, conhecendo outro lado da Síria: foi hospitalizado em Damasco, junto com outras vítimas do conflito. Em 17 de maio, sofreu um súbito acidente vascular cerebral e passou duas semanas internado. Mas, três semanas depois, determinado, já estava de volta ao trabalho.
— Da cama do hospital, eu ouvia os tiros. Foi um choque muito grande. Quando fui removido de lá para Nova York, os médicos americanos disseram que eu era um estudo de caso. Sempre fui saudável, nunca tive pressão alta ou qualquer problema de saúde. Sofri o AVC por estresse. Tive um pico de pressão alta com aquela situação e se formou um coágulo — conta.
O brasileiro nasceu em Mato Grosso do Sul por acaso — o pai também era um capitão de mar e guerra —, cresceu no Rio e, em dezembro de 2010, mudou-se para Nova York, para a ONU, onde chegou através de um disputado concurso. De volta ao Brasil no mês passado, radicou-se em Brasília, para um longo processo de recuperação fisioterápica no Hospital Sarah Kubitscheck.
— Faria tudo de novo, levando a Bandeira brasileira com orgulho. Não se pode achar que não tem jeito; sempre há um caminho para a paz. Os sírios vão encontrá-lo — avalia Feitosa, que completou esta semana 29 anos de Marinha.
JURADOS: Julia Bacha (cineasta); Sandra Cohen, Pedro Doria e José Casado (O GLOBO).
matéria publica em http://oglobo.globo.com/projetos/fazdiferenca/vencedores-2012/mundo/