VICE-ALMIRANTE (FN) HEITOR LOPES DE SOUSA

 

Gaúcho de Porto Alegre, nasceu em 31 de janeiro de 1915, filho de Cassio Paiva de Sousa e Severina Lopes dos Santos Sousa. Casou com a Sra. Heloisa Soares dos Santos Lopes de Sousa com quem teve três filhos: Luiz Felipe Lopes de Sousa, Marcos Lopes de Sousa e Heitor Lopes de Sousa Júnior.

Ingressou no Curso Prévio da Escola Naval em 24 de maço de 1933, onde cursou como Aspirante do Corpo da Armada até 18 de abril de 1936, ainda na Ilha das Enxadas. Na época, um grupo de Aspirantes sugeriu a criação do curso para Fuzileiros Navais, idéia que prosperou, foi bem acolhida pelo Ministro da Marinha, Almirante Guilhem, vindo a ser aprovada pelo Presidente da República. Com isso, em 23 de abril de 1937, foi matriculado no primeiro curso de Aspirantes Fuzileiros Navais. O segundo ano do curso já foi realizado na Ilha de Villegaignon, e, em 22 de dezembro de 1938, formou-se a primeira turma de FN, constituída por cinco Guardas-Marinha, dos quais, três alcançaram o círculo de Oficiais Generais – o Alte Heitor, o CAlte (FN) Ney Souza e Silva e o VAlte (FN) Edmundo Drummond Bittencourt, também Comandante-Geral do CFN.

Em 1939 realizou o Curso de Aplicação, na Guarnição do Quartel Central, sendo nomeado Segundo-Tenente em 22 de dezembro daquele ano. Em 1940 comandou subunidades e, em 1941, foi designado Instrutor dos Cursos do Pessoal Subalterno do CFN e foi aprovado no estágio para promoção a Primeiro-Tenente, ocorrida em 16 de abril de 1943, quando foi designado para instrutor do Curso de Aplicação de Guardas-Marinha.

Em 2 de agosto de 1944, já com o Brasil em estado de guerra, foi designado para servir na 4ª Companhia Regional de Fuzileiros Navais, em Salvador, de onde foi destacado, a 31 de agosto, para o Encouraçado “Minas Gerais”, que se achava em missão de defesa do porto daquela cidade, onde foi Encarregado da 9ª Divisão até 17 de março de 1945, quando retornou para a 4ª Companhia Regional de Fuzileiros Navais. Regressou ao Quartel Central do Corpo de Fuzileiros Navais em outubro de 1945, onde comandou subunidades, e em março de 1946 foi designado pelo Ministro da Marinha como recrutador de voluntários na região meridional do país.

Foi promovido a Capitão-Tenente em 9 de maio de 1946, e em fevereiro de 1947, foi designado Instrutor dos Segundos-Tenentes recém-promovidos. Em 16 de maio de 1947 embarcou no Navio-Escola “Almirante Saldanha”, para a viagem de instrução como Instrutor da turma de Guardas-Marinha e comandante do destacamento de Fuzileiros Navais a bordo. Desembarcou em 19 de julho de 1948 e se apresentou à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército, onde concluiu o Curso de Infantaria, em 27 de setembro de 1948.

Em abril de 1949 foi designado Instrutor e Encarregado dos Cursos do Pessoal Subalterno do Corpo de Fuzileiros Navais. Assumiu o Comando da Companhia-Escola em março de 1950 e foi designado Instrutor do Curso de Aplicação de Guardas-Marinha, sem prejuízo das funções que então exercia. Em julho de 1950 passou a exercer as funções de Chefe da 4ª Seção do Estado-Maior do CFN. Em julho de 1952 foi designado para demarcar e avaliar terrenos destinados ao CFN na região fronteiriça do Rio Uruguai, onde posteriormente foi construído o Grupamento de Fuzileiros Navais de Uruguaiana. Entre outubro de 1952 e maio de 1953 participou do Curso de Guerra Anfíbia do “Marine Corps School”, Estados Unidos.

Promovido a Capitão-de-Corveta por merecimento em 19 de julho de 1953, exerceu inicialmente as funções de Instrutor da Escola Naval e em outubro de 1953 passou a exercer cumulativamente a função de Chefe do Serviço de Material Bélico do CFN e, no mês seguinte, Oficial de Relações Públicas do Comando-Geral do CFN. Em 23 de outubro de 1954, foi designado Assistente do Comandante-Geral, Vice-Almirante (FN) Sylvio de Camargo. Em dezembro de 1955, concluiu o Curso Especial de Comando da Escola de Guerra Naval, sendo designado para exercer a função de Instrutor daquela Escola, onde ficou até 1959.

Foi graduado no posto de Capitão-de-Fragata em 15 de maio de 1956 e em setembro fez parte da delegação da Escola de Guerra Naval designada para observar as condições geográficas de nossas fronteiras Oeste e Sul e seus aspectos de desenvolvimento industrial e econômico. Em outubro fez uma visita de duração de um mês a estabelecimentos militares dos Estados Unidos. Foi promovido a Capitão-de-Fragata, por merecimento, em 3 de outubro de 1956. Em janeiro de 1959, concluiu o Curso Superior de Comando para FN da Escola de Guerra Naval, sendo em maio do mesmo ano designado para servir no Estado-Maior da Armada.

Foi promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra em 15 de maio de 1959 e em 1º de janeiro de 1961 foi designado Comandante do Centro de Instrução do CFN, sendo exonerado em janeiro de 1962, quando passou à situação de adido ao Quartel-General, em decorrência do quadro político vigente. Engajou-se nas articulações do movimento revolucionário de 1964, no qual se destacou como líder no âmbito do CFN, vindo a assumir o Comando-Geral do CFN, ainda como Capitão-de-Mar-e-Guerra, em 1º de abril, conforme o rádio nº 012015Z da Direção Geral da Marinha, ratificado pela Portaria nº 0698, de 5 de maio, do Ministério da Marinha.

Em 22 de outubro, foi promovido a Contra-Almirante, contando antiguidade a partir de 18 de setembro, e nomeado, agora por Decreto de 4 de novembro, para o cargo de Comandante-Geral do CFN, cargo que já vinha exercendo e que continuou ocupando após a promoção a Vice-Almirante, em 25 de agosto de 1966.

Sua gestão como ComGerCFN foi marcada por grandes transformações no CFN.

Transferência do Comando-Geral do CFN, então situado na Rua do Acre, nº 21, para o aquartelamento na Fortaleza de São José. A Guarnição do Quartel Central foi extinta e o apoio ao Comando-geral do CFN passou a ser feito pela Guarnição do Quartel General, posteriormente denominada Batalhão de Comando do Comando-Geral, atualmente Batalhão Naval. A transferência do Comando-Geral para a Ilha das Cobras ensejou a recuperação das instalações da Fortaleza de São José, que se encontrava em lastimável estado de deterioração, alcançando, com o trabalho de sucessivas Tripulações, a excelência dos dias atuais.

Foram criadas as seguintes Organizações Militares:

– Comando da Tropa de Reforço, sediado inicialmente na Ilha do Governador e hoje ocupando aquartelamento na Ilha das Flores;

– Comando da Organização de Apoio, transformado em Comando de Apoio do CFN (hoje dividido em Comando do Pessoal de FN e Comando do Material de FN);

– Comando de Serviços, posteriormente transformado em Centro de Reparos e Suprimentos Especiais do CFN, hoje Centro Tecnológico do CFN;

– Batalhão Humaitá, na sua localização atual, na época ocupada pelo então Centro de Recrutas, que foi transferido para Campo Grande (Gaundú do Sapê);

– Batalhão Paissandu, inicialmente sediado na Ilha das Flores, foi transferido para a Ilha do Governador em 1ºJUL1971, trocando de lugar com o Comando da Tropa de Reforço;

– Grupamento de Fuzileiros Navais do RJ, então sediado na Fortaleza de São José;

– Companhia de Comando da Divisão de Fuzileiros Navais;

– Companhia de Viaturas Anfíbias, depois incorporada ao Batalhão de Viaturas Anfíbias;  e

– Bateria de Canhões Automáticos Antiaéreos de 40mm.

Construção ou reforma dos seguintes aquartelamentos:

– Quartel-General na Ilha das Cobras;

– atuais instalações do Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais;

– Comando da Tropa de Reforço, na Ilha das Flores; e

– então Centro de Recrutas, no Guandú do Sapê, atuais instalações do Batalhão Tonelero; e

– Quartel do Lago, do Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, que na época tinha suas instalações na Área Alfa, próximas ao atual Centro de Instrução e Adestramento de Brasília.

Incorporação de novas áreas: antiga Base Naval de Salvador, atual sede do Grupamento de Fuzileiros Navais de Salvador; antigo Centro de Instrução Almirante Tamandaré, atual sede do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal; e Ilha da Marambaia, inicialmente como Prefeitura Naval da Ilha da Marambaia, posteriormente Centro de Recrutas, hoje Centro de Avaliação da Ilha da Marambaia e sede do Comando do Desenvolvimento Doutrinário do CFN.

Promoveu obtenção de equipagens de campanha, material de saúde e de combate na selva, pára-quedas, equipamentos de mergulho e adoção de subcalibre para o adestramento de tiro e a conclusão do estudo para aquisição das Viaturas Blindadas para Transporte de Tropa, com capacidade anfíbia, os Urutu, da ENGESA.

O adestramento foi intensificado, com a realização de exercícios, destacando-se as primeiras Operações “Dragão” e as Operações Veritas, no Caribe, em conjunto com CFN de países amigos. Foram, também, criados os seguintes Cursos: Contra-Guerrilha; Avançado de Operações Anfíbias; Embarque e Carregamento, Técnico de Instrução para Instrutores de Recrutas; Métodos de Instrução e Liderança para Graduados; Mecânica de Armamento para Graduados; Curso Expedido de Carga para Graduados; Motociclista Militar; e Motorista Militar para Praças.

Especial destaque deve ser feito à participação do CFN na “Força Interamericana de Paz” (FAIBRÁS), na República Dominicana, de 24 de maio de 1965 a 30 de setembro de 1966.

Passou o cargo de Comandante-Geral do CFN em 2 de abril de 1971, ao seu colega de Turma, VAlte (FN) Edmundo Drummond Bittencourt, e foi desligado do Serviço Ativo em 22 de abril. Por ocasião da passagem do cargo, o AlteEsqd Antonio Borges da Silveira Lobo, Comandante de Operações Navais, consignou ao Alte Heitor uma Citação Meritória, no grau de Elogio, da qual segue-se um extrato: “Sete anos são passados da Revolução Redentora, que restaurou no Brasil, com a graça de Deus, a crença no seu futuro e a tranqüilidade da família brasileira, tão conturbada àquela época que antecedeu a patriótica ação vitoriosa de 31 de março de 1964. A Nação é grata a todos que, desta ou de outra forma, tornaram possível tal acontecimento e que a fizeram retornar ao verdadeiro Rumo que sua destinação histórica lhe conferiu, desde a formação de sua Nacionalidade. É agradecida, também, àqueles em cujos ombros depositou a responsabilidade pela sua Redenção e pelo desbravamento de seu porvir, e que souberam, até a data presente, sob a inspiração de um patriotismo acendrado e através de uma atuação dinâmica e esclarecida, atender na forma superiormente desejada, aos mais justos reclamos do país. O maior elogio que poderia fazer ao Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais que hoje se despede, o VAlte (FN) Heitor Lopes de Sousa, é o meu testemunho e, certamente o de toda a Marinha, de que S.Exª, após sete anos de proficiente atuação à frente dos destinos de sua valorosa Corporação, foi um dos que a Nação há de perpetuar em sua lembrança, pelo muito que contribuiu para o seu engrandecimento e para a fixação dos alicerces do que será, em futuro breve, o glorioso Brasil de amanhã. Ao apresentar ao Almirante Heitor as despedidas da Marinha a que tanto se dedicou, em toda sua magnífica carreira, desejo consignar a S.Exª o presente elogio, conseqüência da minha apreciação sobre o seu desempenho no elevado cargo de Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais”.

Na Reserva, continuou a contribuir para o engrandecimento do CFN. Assim é que, em outubro de 1980, recebeu uma ligação telefônica do então Ministro da Marinha, Almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca, transmitindo-lhe a seguinte mensagem do Presidente da República, General João Figueiredo:

“Ao assinar a exposição de motivos referente à criação do posto de Almirante-de-Esquadra, no Corpo de Fuzileiros Navais, fiz pensando no senhor. Cumprimento-o pela vitória alcançada”.

Por isso, na edição de 22 de outubro de 1980 da revista Veja consta que, para os Fuzileiros Navais, o patrono da quarta estrela é o Vice-Almirante (FN) Heitor Lopes de Souza.

Ao longo de sua carreira o Alte Heitor recebeu diversas citações meritórias e foi agraciado com várias medalhas e condecorações nacionais e estrangeiras, entre as quais: Medalha Naval do Mérito de Guerra, com duas estrelas; Ordem do Mérito Naval grau de Grande Oficial; Ordem do Mérito Militar (grau de Comendador); Ordem do Mérito Aeronáutico (grau de Comendador); Medalha Militar com passador de Platina; Medalha Mérito Tamandaré; Medalha do Pacificador; Ordem Leopoldo da Bélgica (grau de Comendador); Ordem Soberana e Militar da Cruz de Malta; e Legião do Mérito dos Estados Unidos da América do Norte, no grau de Comandante.

Em 10 de março de 1990 realizou seu último desembarque, na cidade do Rio de Janeiro, deixando para todos nós um legado marcado por sua coragem moral e pelos valores básicos de um Fuzileiro Naval – honra, competência, determinação e profissionalismo.

Postado Por Lucio Lucena Diretor de Comunicação da AVCFN e Editor do Blog:

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