MARCHA AVCFN 40 ANOS
HOMENAGEM À AVIAÇÃO NAVAL

Em 23 de agosto de 2012 foi realizada Cerimônia alusiva ao 96º Aniversário da Aviação Naval, trajetória iniciada em 1911, na França, com o Capitão-Tenente Jorge Henrique Moller recebendo seu brevet de Aviador, e oficializada em 23 de agosto de 1916, com a criação da Escola de Aviação Naval, primeira escola militar de aviação do Brasil. Esta singradura foi marcada, no evento, com a transferência das aeronaves MH-16 Sea Hawk para o Esquadrão HS-1, o que proporcionará melhores condições para a defesa da Amazônia Azul. Para encerrar a Cerimônia, desfilaram a Guarda de Honra e Representações da Diretoria de Aeronáutica da Marinha, do Navio Aeródromo São Paulo e das Unidades da Força Aeronaval. Foi emocionante ver os “Velhas Águias”, comandados pelo Almirante-de-Esquadra (Refº-FN) Carlos de Albuquerque, ex-Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) desfilando orgulhosos pelo seu legado.

Este ano, a Cerimônia teve como novidade a participação de um Pelotão da Associação de Veteranos do CFN (AVCFN) que ofereceu ao Comandante da Força Aeronaval, Contra-Almirante Victor Cardoso Gomes, uma placa com mensagem alusiva ao 96º Aniversário da Aviação Naval. O Pelotão, na realidade, era o Grupo-Tarefa 40 (GT-40) que, entre 20 e 22 de agosto, realizou uma marcha a pé entre a Base de Fuzileiros Navais da Ilha das Flores (BFNIF) e a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), num total de 123,5 km, com a finalidade de, no contexto das celebrações dos quarenta anos da AVCFN, homenagear aqueles que, no Ar, são os Homens do Mar.

Ao realizar a Marcha AVCFN 40 Anos, os Veteranos fizeram jus aos versos do poeta português Luiz de Camões, que, em sua epopéia “Os Lusíadas”, escreveu: “A disciplina militar prestante não se aprende, Senhor, na fantasia, sonhando, imaginando ou estudando, senão vendo, tratando e pelejando”. Em cada quilômetro, vendo, tratando e pelejando, ficaram exemplos de coragem, superação e espírito de corpo, mostrando quão prestante foi a disciplina cultivada nos dias de Serviço Ativo. Coragem para, mesmo aos 72 anos, enfrentar percursos de, em média, 41 km/dia, quando a distância prevista nos manuais é de 32 km/dia. Superação para, em cada trecho, vencer o cansaço, as dores, o Sol quente, vicissitudes típicas de uma marcha a pé. Espírito de corpo para manter a coesão do grupo, incentivar os campanhas e lembrar que ali representavam a AVCFN, a qual, em 4 de maio de 2012, completou quarenta anos dedicados ao Brasil.

Para cumprir esta missão, novamente recorrendo ao poeta português, não faltaram “saber, engenho e arte”. O planejamento e a preparação e a organização do GT foram feitos a partir de documentos doutrinários e, principalmente, das experiências anteriores, em especial da Marcha Rio-Brasília, executada em 2008, ano do Bicentenário do CFN. Foram feitos dois reconhecimentos do itinerário, e, na fase de preparação, além de exames médicos, foram realizados dois treinamentos. O primeiro, no Complexo Naval da Ilha do Governador, com o apoio da Divisão Anfíbia, em percurso de 12 km, para familiarizar cada Veterano com os procedimentos da marcha. O segundo, já na BR-101, num total de 18 km, para complementar o preparo individual e, principalmente, testar a execução das ações previstas para as atividades de Apoio.

O GT-40 teve sua Coluna de Marcha composta por Veteranos e por militares da Secretaria da Comissão de Promoções de Oficiais e da BFNIF, e contou com o GT de Apoio, organizado em Unidades-Tarefa (UT). As atividades de Transporte, Rancho, Estacionamento e Serviços Gerais, inclusive montagem de pontos de apoio e fornecimento de água em cada alto-horário, foram conduzidas pela UT de Apoio, que operou na área de retaguarda, e pela UT de Apoio Cerrado, que acompanhou a Coluna de Marcha, ambas subordinadas ao Comandante do GT de Apoio, CC (FN) Paulo Roberto Victoriano, que teve participação ativa e intensa no planejamento, nas ações preparatórias e na execução da Marcha, desdobrando-se para que todas necessidades da Coluna de Marcha fossem atendidas. Foram utilizadas, gratuitamente, instalações do Acampamento Batista Fluminense (ABF), em Rio Bonito, pelo que a AVCFN coletou 210 kg de alimentos para suas atividades beneficentes. A BAeNSPA apoiou com instalações e rancho de altíssima qualidade. Deve-se destacar o cuidado, a atenção e a atuação profissional dos integrantes do GT de Apoio, das Bases citadas e do ABF, que não mediram esforços para prover o melhor apoio à Coluna de Marcha. Os principais ensinamentos colhidos foram a importância de haver uma instalação de apoio intermediária, e a necessidade de prover banheiros químicos ao longo do itinerário. Para a Base Intermediária, deve-se considerar a distância máxima de 70 km para o apoio.

A UT de Segurança, nucleada em Destacamento da Companhia de Polícia (CiaPol) e comandada pelo CT(FN) Fábio Rodrigues Cavalcante, foi dividida em duas Equipes-Tarefa (ET), Segurança e Controle de Trânsito, sendo fundamental para proporcionar à Coluna de Marcha as condições para o deslocamento sem interferência do trânsito das rodovias e com a proteção requerida. A ET Segurança deslocava-se a pé, ao lado da Coluna de Marcha, ou nas Viaturas (Vtr) de apoio, à retaguarda, e a ET Controle de Trânsito atuava à frente da Coluna, garantido a continuidade do seu deslocamento, feito, na maior parte do percurso da Marcha, em coluna por dois, utilizando-se o acostamento das rodovias, para evitar transtornos ao tráfego de veículos. Na BR-101, apenas em trechos curtos – pontes e viadutos – houve necessidade de ocupar a primeira faixa da pista, o que era feito em coluna por um. Na retaguarda da Coluna de Marcha havia sempre pelo menos uma Vtr de grande porte – caminhão ou ônibus – protegendo a tropa, além das ambulâncias. Na Via Lagos, em boa parte do percurso, o acostamento é com grama, mas, como não havia trânsito intenso, a Coluna de Marcha pôde ocupar a primeira faixa, mantendo coluna por dois.

A UT Segurança colheu vários ensinamentos, destacando-se: o posicionamento de militares da ET Segurança nas Vtr à retaguarda; o emprego de duas Vtr leves, com elementos da ET Controle de Trânsito revezando-se, à frente da Coluna de Marcha, antecipando-se e fazendo interdição dos pontos críticos, evitando a interrupção da Marcha e interdições longas no trânsito; o posicionamento de Vtr à retaguarda, fundamental em trechos sem acostamento; e o revezamento dos militares nas funções, reduzindo o desgaste e garantindo mais qualidade na execução das tarefas. Também se deve destacar que o deslocamento noturno não é desejável, principalmente em uma via com iluminação precária, entretanto, vislumbrando-se esta situação, a UT Segurança deve estar equipada com material apropriado: lanternas, cones com iluminação e faixas reflexivas nas Vtr da retaguarda.

A UT Saúde, comandada pela 1ºTen (Md) Fernanda Rodrigues Bonheur, da Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador (BFNIG), e constituída por Destacamento da Unidade de Medicina Expedicionária da Marinha (UMEM), empregou duas ambulâncias, sendo uma tipo UTI, do Centro Tecnológico do CFN, e fez o atendimento nas próprias ambulâncias, verificando-se casos de entorse, estiramento muscular, estafa física e dor nos pés. Como Medicina Preventiva, foram feitos exames laboratoriais e teste ergométrico e orientações sobre proteção ao Sol, assaduras e hidratação. Havia previsão de evacuação para Hospitais Intermediários (Policlínica Naval de Niterói nas duas primeiras jornadas e Policlínica Naval de São Pedro da Aldeia, na terceira) e para o Hospital de Retaguarda (Hospital Naval Marcílio Dias), inclusive empregando meios aéreos. O atendimento pela Equipe de Saúde consistiu em avaliação (busca ativa nos deslocamentos e altos), execução de curativos e aferição de pressão arterial.

Como ensinamento, foi apontado que a Cadeia de Evacuação pode (ou deve) ser modificada ao longo do percurso, principalmente quanto ao hospital intermediário de apoio, bem como a importância da realização de exames prévios, para minimizar riscos durante a Marcha. Ressalta-se também a importância da “preparação” dos pés, com aplicação de esparadrapo nos pontos que, por ocasião dos treinamentos, tenha sido verificada a ocorrência de bolhas, principalmente dedos, calcanhares e a metade anterior da planta dos pés. Pomada, vaselina ou talco, bem como palmilhas de silicone, são apropriados para minimizar as consequências do atrito da pele com o coturno.

No dia 20, o Ponto Inicial (PI) foi ultrapassado às 7h, sendo percorridos 39,1 km, até a Escola Municipal Manoel João Gonçalves, em Tanguá, divididos em oito trechos, de quatro a cinco km cada. Para o almoço, o GT retornou à BFNIF, embarcado em Vtr, conforme planejado, para proporcionar melhores condições de conforto à tropa, além de exigir menor apoio logístico ao longo do percurso. Os dois primeiros pernoites foram no ABF, onde a tropa também recebeu o jantar e o café da manhã, preparados na BFNIF. O segundo dia teve a jornada mais longa, concluída cerca de 18h40, após 43,2 km, divididos em dez trechos, cada um variando de 3,3 a 5,1 km. Esta variação da distância percorrida em cada trecho, diferente do dado de manual, que prevê 4 km, foi adotada para que os locais de alto-horário fossem situados em pontos mais apropriados em termos de segurança. Para o terceiro dia ficaram 41,2 km, divididos em dez trechos de 3,2 a 4,5 km.

É digno de registro o relato da Tenente Fernanda, que percorreu a pé cerca de 20km/dia. “Passei a minha vida inteira fazendo o percurso RJ – São Pedro d’Aldeia … mas jamais imaginei que percorreria este trajeto a pé e prestando apoio como médica à AVCFN. Após alguns ensaios e reuniões, peguei minha mochila e embarquei nesta missão, deixando para trás afazeres pessoais, rotina, família e casa. O percurso foi árduo. … Estávamos ali expostos ao sol, ao calor, aos insetos, à escuridão da noite. O cansaço era inevitável, as bolhas tomavam proporções cada vez maiores em nossos pés, a face de dor era substituída pelo sorriso no rosto a cada etapa avançada. Os civis ao longo do caminho ajudaram a manter a motivação. A cada “tchau” de criança ou grito de entusiasmo ou simplesmente sinal de positivo que recebíamos, nossa vontade era renovada. Como esquecer a menininha que perguntou se o Almirante Elkfury poderia dar um autógrafo a ela? Diante de uma sociedade que muitas vezes parece não acreditar no nosso trabalho, poder vivenciar este tipo de situação nos deixa imensamente felizes. … Saio da manobra tendo conhecido muitos militares e um pouco de suas histórias e experiências, mas sobretudo volto para casa com a sensação do dever cumprido, por “devolver” todos estes admiráveis homens às suas respectivas famílias!”.

Também é merecedor de ser transcrito um extrato do depoimento do CT (FN) Rodrigues: “Passar três dias ao lado dos ‘Fuzileiros de sempre’ foi bastante motivador, principalmente para os Soldados, maior efetivo na UT. Aprender histórias do nosso CFN de outrora e perceber os seus avanços, ter a oportunidade de mostrar o CFN de hoje e apresentar suas perspectivas foram trocas de conhecimentos que trazem ganhos aos nossos militares. Além disso, é vibrante perceber que ser um Fuzileiro Naval é um sentimento que vai além dos trinta anos de carreira ou que, mesmo depois de terem tomados outros rumos profissionais, não existem ex-Fuzileiros.”
No agradecimento ao Comandante do GT de Apoio, foi utilizado o termo “imprescindível”, que bem expressa a importância dos apoios para a Marcha, mas é preciso acrescentar a palavra “magnífica”, na tentativa de retratar a competência, o profissionalismo e as atitudes “além do dever” visíveis em cada um dos seus integrantes. Estas expressões, “imprescindível”, “magnífica” e “além do dever”, na realidade, alcançam todos que contribuíram para a realização da Marcha, iniciando pelo Comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), VAlte (FN) Fernando Antonio, que prontamente aceitou prover os meios necessários à execução deste desafio, ao Comandante da Divisão Anfíbia, CAlte (FN) Gomes da Luz, que proporcionou as condições para a realização do primeiro treinamento, ao Comandante da Tropa de Reforço, CAlte (FN) Zuccaro, que, por meio de suas Unidades Subordinadas, concretizou o apoio da FFE, e, com o devido destaque, o Comandante da Força Aeronaval, CAlte Cardoso Gomes, que, desde o primeiro contato, entusiasmou-se com a idéia e não mediu esforços para contribuir com a AVCFN. A estes Almirantes, por dever de justiça, somam-se os Comandantes e Tripulações das OM que apoiaram a Marcha AVCFN 40 Anos para receber a eterna gratidão dos Fuzileiros de sempre.

Merecidos cumprimentos também devem ser feitos aos Veteranos integrantes da Coluna de Marcha e da Equipe de Apoio, cujos nomes ficarão registrados na História da AVCFN. Para melhor expressar o que foi para esses bravos combatentes, nada melhor que utilizar suas próprias palavras. O Veterano Samuel sentiu-se “muito honrado por ter tido a oportunidade de participar da Coluna de Marcha GT-40 que, para mim, foi sem igual. Agradeço de coração a organização perfeita, cujo êxito foi excelente, sem deixar de comentar sobre os companheiros da Ativa e dos próprios Veteranos que, com galhardia e amor ao Brasil, à nossa Marinha, ao CFN, cumprimos a Missão com brilhante êxito”. Para o Veterano Trajano, “São tantos os grandes eventos da AVCFN, que seria difícil dizer qual o melhor ou maior. Mas, entre todos, este último foi e merece um bom destaque. Assim sendo, quero expressar meus votos de grande sucesso à Diretoria da AVCFN e ao Comando da Força Aeronaval por este maravilhoso evento. Nota dez para todos envolvidos neste evento.” Um Veterano, não identificado, disse que “Esta Marcha … vem comprovar a união, o espírito de corpo e a amizade que nos une, como militares da AVCFN. É também uma prova que nossa Associação está fortemente consolidada”.

Assim falou o Veterano Dias, SO-FN-ES RM1: “Foi para mim uma satisfação sem igual … pois na minha vida de caserna tive muito poucas oportunidades de mostrar meu real valor como combatente, em função da minha especialidade, mas agora pude provar, para mim mesmo, que posso e tenho muita fibra, e isso não tem preço.” Segundo o Veterano Sylvio, “Fazer parte desta marcha teve um significado muito grande para mim, pois no último dia 12/8 completou 25 anos que incorporei nessa Tropa que tanto tenho orgulho de pertencer. Agradeço à AVCFN por ter me proporcionado esta oportunidade de participar da Marcha em comemoração ao 96º Aniversário da Aviação Naval e aos 40 Anos da AVCFN”. O Veterano Corato, exemplo de superação, disse: “Levantar às 5h, formar às 6h15 para iniciar mais um dia de Marcha – isso é Disciplina. Ao longo do percurso, muitos pensam em desistir, mas decidem continuar – isso é Persistência. Há 40 anos, em um almoço de confraternização, decidem criar a AVCFN – isso foi uma Visão. Com isso juntaram o Amor, a Disciplina e a Persistência com a Visão, olharam para o Céu, onde ouviram uma voz dizendo “Diga aos Veteranos que marchem” – o sonho está sendo realizado.”
Um antigo Instrutor de Marcha e Estacionamento do CIAMPA, ainda com um bom preparo físico, o Veterano Valdemir, relatou: “pensei que seria muito fácil, mas na prática foi muito difícil, pois, por não ter como escolher um calçado adequado, sofri muito no segundo dia… No terceiro dia, meu amigo J. Antonio emprestou-me um coturno adequado, aí sim, terminei o deslocamento confortavelmente. Conclusão: não adianta ter um excelente preparo físico, ter conhecimento do combate, do terreno e das ações, se você não estiver com o equipamento adequado… Aproveito para elogiar os Veteranos que concluíram a Marcha, principalmente os Veteranos acima de sessenta anos. Meus amigos Veteranos, muito obrigado pelo convite, estou pronto para a próxima.”
O Veterano Lucena, um dos idealizadores da Marcha, assim se pronunciou: “Quando a Coluna de Marcha do GT-40 cruzou o Ponto Final do percurso, a sensação de orgulho foi muito grande. Esta Marcha reforça a tese de que o Veterano Fuzileiro mesmo na Reserva continua Ativo e que não existe missão impossível! Serviu também para que cada componente do GT-40 avaliasse seu potencial físico. Vale ressaltar o planejamento altamente detalhado e o apoio recebido da Equipe destacada para tal, que não mediu esforços para nos servir”. Para o SO-FN-AT Lopes, servindo na BFNIF, “A Marcha foi um evento importante na carreira de todo combatente, seja da Ativa ou Veterano. Ela serviu para destacar a dedicação, a perseverança e o objetivo no fiel cumprimento da missão. Apesar do desgaste físico e psicológico, serviu para integrar seus componentes, pois todos, sem distinção, apoiaram-se mutuamente no sentido de todos superarem a dor e o sacrifício em prol da missão. Parabéns à AVCFN!”.
Outro integrante da Coluna de Marcha, que ainda está no Serviço Ativo e que já pertence ao Quadro de Associados, o CT (T) Ferreira, Oficial da Secretaria da CPO, registrou que “Nunca mais diga, na sua vida, que 4 km é logo ali. O sofrimento da Marcha é a alegria pela superação e pela vitória. O GT-40 comprova que a superação dos limites humanos não tem idade para acontecer.”
Para concluir este relato e bem resumir o que foi a Marcha AVCFN 40 Anos, três expressões traduzem o que se passou nestes três inesquecíveis dias: homenagem para a Aviação Naval; adestramento para a Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE); e vibração, perseverança e endurance dos Fuzileiros de sempre. ADSUMUS! VIVA A MARINHA!